segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

As Donas Antónias

A Dona Antónia é aquela senhora que muitos têm a sorte de ter tido nas suas vidas, nem que por um breve momento. Eu tive a sorte de ter durante muitos e largos anos. É a pessoa que mais paciência tem para nós e para as nossas “exigências”, logo a seguir (ou no meu caso, até bem antes) à nossa mãe. Fala alto e reclama muito, mas é a primeira a encher-nos dos mais variados mimos, desde os deliciosos canelones até àquela saia cheia de folhos engomada em cima da nossa cama! E vai muito mais para além disso. Faz-nos favores do arco-da-velha, como por exemplo, participar, depois de muito pedirmos e choramingarmos, nas nossas inocentes mentiras (acabando por revelar o seu recôndito talento para a arte de representar!)

É a pessoa que está sempre lá.
Para mim e para a minha família esteve.Esteve na doença da minha mãe, na sua morte, no seu enterro e em todos os difíceis dias depois disso. Esteve na doença do meu pai, na sua morte, no seu enterro e agora, é ela que guarda a chave duma casa fria e silenciosa que até aos mais fortes intimida.

Também esteve sempre nas festas e confusões que o meu pai adorava organizar. Era o braço direito da minha mãe. Ouvia e percebia como ninguém as suas instruções. Por norma, era ela, a minha mãe (que tinha a capacidade de transformar o mais simplório jantar numa recepção de alto gabarito) que orientava, que decidia, que gritava e que se lamentava por se meter nestas coisas. Mas era sempre ela, que comandava as hostes.
Com a D. Antónia sempre lá. Antes e depois.

Tive a sorte de ter, não uma, mas A D. Antónia na minha vida, porque sem ela tudo iria ser, muito mas muito, mais difícil.
Com a D. Antónia, sempre nos vamos aconchegando entre os seus gritos e lamentações! Esbraceja e gesticula, diz que vai e depois que não vai, que faz e depois que não faz, que está velha e cansada e acaba sempre por nos ajudar “só mais desta vez”.

Obrigado a todas as Donas Antónias espalhas por este país fora!
E à minha querida D. Antónia, o meu obrigado especial pelo apoio incondicional, pelos canelones, pelas broas na altura dos santos, pelas velhoses no Natal, pelos kg de roupa engomada, pelas camas feitas de lavado, e acima de tudo:
Obrigado por, simplesmente, ter lá estado!

Seja onde for que os meus pais estejam, estão com certeza mais descansados por vê-la cá connosco.