Estava tudo combinado. Jantar, quarta-feira, em casa, em Alcanena. Com os do costume.
Na véspera, terça-feira, liga-me o meu pai: "estamos com um problema, temos de adiar o jantar. Marcaram-me a citologia ao fígado para amanha em Leiria... Nem sei se tenho de ficar internado para quinta-feira".
Fiquei com um aperto no peito o resto do dia. Por tudo, mas principalmente porque poderíamos estar perto de péssimas noticias.
Lá se adiou o jantar para sábado.
Na quarta-feira acordei e levantei-me com um peso e uma falta de ar horrível. Angustia. Tristeza e alguma revolta...
Mas esses sentimentos não tardavam em desaparecer...
Eram umas 13h quando recebo uma mensagem no telemóvel que dizia algo do género "quem está ai a rezar?!"
Logo a seguir outra "Não quero acreditar no que estou a ouvir!"
Exaltada, mas com alguma desconfiança e esperança de que seriam boas notícias, desatei a telefonar insistentemente.
Demorou até atender, mas quando atendeu explicou "a mancha do pulmão despareceu e o fígado deve ser só gordura, nenhum médico acha que seja mais do que isso".
Foi a melhor prenda de anos que alguma vez podia ter tido. Aliás, duvido ter outra assim...
Ainda que todo este panorama se tenha invertido, a verdade é que a partir daí até Julho, tivemos bons meses e excelentes momentos todos juntos, enquanto a doença nos deu algumas tréguas e abrandou o ataque.
Faz hoje exactamente um ano que ouvi a voz dele emocionada de alegria, como já não ouvia há quase 8 meses...
E sábado, dia 30 de Janeiro de 2010 lá estivemos todos reunidos à mesa como de costume. Comemos, rimos e guardámos, cada um à sua maneira, aquele momento tão especial. Todos com o doloroso e recôndito receio de que poderia ser a última vez que ele festejaria o meu aniversário.
As saudades que sinto são impossíveis de descrever. Da voz dele, das gargalhadas, da energia que animava qualquer situação! Sinto tanta falta dele...
